Polícia

MT: enfrenta epidemia de violência contra crianças e adolescentes e 73% dos casos de abuso sexual ocorrem dentro de casa

Somente em Cuiabá, foram 344 casos de violência, sendo que 190 deles foram de abuso sexual.

MT enfrenta epidemia de violência contra crianças e adolescentes e 73% dos casos de abuso sexual ocorrem dentro de casa

Dados alarmantes divulgados pela Rede Protege revelam que 344 notificações de violência contra crianças e adolescentes foram registradas somente em Cuiabá no ano de 2024. Desse total, 227 casos são de violência causada por outras pessoas e 83 de violência autoprovocada. Já outros 34 registros foram ignorados ou ficaram em branco, sem especificação.

Os especialistas alertam que estes números representam apenas a ponta do iceberg, já que a subnotificação é um desafio constante neste tipo de situação.As vítimas têm predominantemente entre 13 e 18 anos (58,7% dos casos), seguidos por crianças de 0 a 12 anos (28,5%). A violência sexual aparece como o tipo mais frequente, representando 43,3% das notificações – um total de 190 casos, sendo que em 88 situações o abuso ocorreu múltiplas vezes. Dados ainda mais preocupantes revelam que 73,7% destes abusos sexuais aconteceram dentro da residência da vítima.

“Estamos diante de uma epidemia silenciosa”, afirma a promotora de Justiça Daniele Crema da Rocha de Souza, integrante da Rede Protege. “O fato de que a maioria dos abusos ocorre dentro de casa, muitas vezes por pessoas próximas ou da própria família, cria barreiras enormes para a identificação e denúncia destes casos.”

O perfil dos agressores confirma esta triste realidade: conhecidos (58 casos), namorados (48 casos), padrastos (19 casos) e pais (16 casos) aparecem como os principais responsáveis. As meninas são as principais vítimas, representando 176 dos 190 casos de violência sexual registrados.

Além da violência sexual, os dados mostram outras formas de agressão:

• Violência física: 19,4% dos casos
• Autoextermínio: 15,5%
• Violência psicológica: 14,1%
• Negligência: 3,6%

A análise por raça/cor revela que 61% das vítimas são pardas, seguido por brancos (23%), pretos (9%) e indígenas (5%). Em termos de escolaridade, a maior incidência ocorre entre crianças e adolescentes que completaram da 5ª a 8ª série (34,3%) e ensino médio incompleto (13,1%).

Diante deste cenário preocupante, o Ministério Público de Mato Grosso está intensificando suas ações de conscientização. Durante todo o mês de maio, promotores estarão visitando escolas da capital para palestras e diálogos com estudantes, como parte das ações alusivas ao 18 de maio – Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.

“Precisamos romper o silêncio que protege os agressores”, alerta o promotor Augusto Cesar Fuzaro. “Muitas crianças e adolescentes não denunciam porque se sentem culpadas, ameaçadas ou não reconhecem que estão sendo vítimas de violência. É nosso dever criar canais seguros para que estas vozes sejam ouvidas”.

A Rede Protege, que reúne diversas instituições como Ministério Público, Defensoria Pública, secretarias municipais e estaduais, além de conselhos tutelares, reforça a importância da denúncia através do Disque 100 ou diretamente aos Conselhos Tutelares. Os especialistas destacam que a prevenção e o combate a esta violência exigem um esforço conjunto de famílias, escolas, poder público e sociedade civil.

“Estes números não são apenas estatísticas. Representam vidas marcadas por traumas profundos que podem perdurar por décadas”, conclui a promotora Daniele. “Cada caso que prevenimos ou interrompemos representa um futuro que estamos salvando”.

Leiagora
Foto: Imagem Ilustrativa

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