Opinião

À festa da democracia, faltou quem quis ou não pôde ir

E o que Lula tem a ver com isso?

Por Ricardo Noblat

Neste mundo de Deus e de Fake News tudo é possível. Como dizer-se que os militares, coitadinhos, foram contra o golpe de 8 de janeiro de 2023 que teve início no dia seguinte à eleição de Lula, quando caminhoneiros bloquearam estradas e bolsonaristas correram para a porta de quartéis.

Os acampamentos foram a etapa seguinte do golpe. Dali, no dia 12 de dezembro, saíram os golpistas que incendiaram ônibus e carros no centro de Brasília e atacaram o prédio da Polícia Federal. Naquela noite, a Justiça Eleitoral diplomou Lula, declarando-o oficialmente eleito.

Às vésperas do Natal, do acampamento saíram terroristas para pôr uma bomba em um caminhão e explodir parte do aeroporto de Brasília. A sorte é que, acionada, a bomba falhou. Abortou-se assim uma tragédia que àquela altura poderia ter posto fogo no país. Deus

Em seguida, o comando das Forças Armadas rachou. A Marinha era a favor do golpe, a Aeronáutica calou-se e o Exército subiu no muro. Frouxo como sempre foi, Bolsonaro hesitou em avançar com o golpe com medo de acabar preso. Fez as malas e fugiu para os Estados Unidos.

Nem por isso o golpe em marcha esmoreceu. Havia pelo menos duas minutas com todos os passos adiante a serem dados. A Polícia Militar do Distrito Federal fazia parte da trama chamada de “A Festa da Selma”. E o governador Ibanês Rocha, pobre dele, de nada sabia.

“A Festa da Selma” deu lugar à “Festa de Lula” um ano depois, batizada de “Festa da Democracia”. E os idiotas, ou inconformados com o fracasso do golpe, agora culpam Lula pela ausência na festa de governadores bolsonaristas ou simplesmente de direita, e de parlamentares do Centrão.

Festa da democracia é para os democratas que festejariam seu triunfo. Todo mundo poderia comparecer à solenidade marcada no Senado e aos atos de rua. Não foi por falta de convite que mais de 15 governadores faltaram. Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, convidado, não foi.

Faltaram quatro dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal – dois deles bolsonaristas. Mas talvez não tenham faltado por isso, mas porque estão de férias. Os outros dois, acima de quaisquer suspeitas, estão fora do país. O que há de mal nisso? Mas como é preciso baixar a bola de Lula…

A culpa é de Lula, pois, incapaz de reunificar o país. Ora, tem uma parte do país que não quer juntar-se à Lula. Tomara que encontre um candidato decente para disputar a eleição de 2026. A alternância no poder é um dos pilares da democracia. Só não dá para alternar com golpistas.

Ricardo Noblat é jornalista

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