Opinião

Aproxima-se a hora de apontar os responsáveis pela tragédia gaúcha

Culpados, os há. Se não forem punidos, pelo menos que sejam apontados. O povo tem o direito de saber.

Por Ricardo Noblat

Junte chuva em demasia, como jamais se viu antes, e sistemas falhos de defesa de cidades cortadas por rios. Adicione notícias falsas produzidas por ignorantes ou espertos que tentam se aproveitar politicamente delas. Misture e bata tudo com a ajuda de ventos fortes.

A tempestade perfeita está pronta para ser servida. Foi assim no Rio Grande do Sul – ou melhor: está sendo assim desde o início da semana passada e não tem data para terminar, dando início ao balanço de perdas e danos e à reconstrução do que for possível reconstruir.

O fim da tempestade também dará lugar ao exame profundo de tudo que foi feito de errado desde muito tempo, e à apuração de responsabilidades. Sim, porque não adianta culpar Deus, uma vez que ele dotou o homem de livre arbítrio. Ou dizer que foi castigo que caiu do céu.

Culpados, os há. Se não forem punidos, pelo menos que sejam apontados. Heróis, a população os reconhece facilmente, e a sensação de dever cumprido basta para eles. Ou então seriam heróis de fancaria, oportunistas, aproveitadores da desgraça alheia em busca dos seus poucos minutos de glória.

Lula, que irá amanhã ao Rio Grande do Sul pela terceira vez em menos de 15 dias, reuniu-se com 38 ministros na segunda-feira (13) e cobrou deles unidade no discurso e nas ações para combater a tragédia que já matou 147 pessoas e feriu 806. Há 127 desaparecidos

Na ocasião, tanto Lula como o ministro Rui Costa, chefe da Casa Civil, disseram que houve problemas em comportas no Rio Grande do Sul. Segundo Costa, havia 23 comportas no estado que atuariam para evitar as enchentes, mas apenas uma teria funcionado plenamente.

Se as comportas estivessem em bom estado, a tragédia poderia ter sido menor. Mesmo com o alto nível da água, ela não ultrapassou a marca de 6 metros do muro de contenção. No entanto, por falhas de manutenção, a água entrou por brechas na parte de baixo das comportas.

Lula foi mais explícito e direto, embora cuidadoso:

“Esse fenômeno que aconteceu, sabe, me parece que não foi só o fenômeno da chuva, me parece que tem o fenômeno também das pessoas que não cuidaram das comportas que deveriam ter cuidado há muito tempo”.

E acrescentou:

“Mas tudo isso é um problema a ser resolvido daqui para frente. Vamos dar a nossa contribuição ao povo do Rio Grande do Sul, inclusive apresentando uma discussão nacional sobre a questão de resolver definitivamente as enchentes na cidade de Porto Alegre”.

Costa afirmou ainda que há intenção do governo de contratar estudo de uma consultoria internacional para fazer o diagnóstico dos problemas no estado e apontar soluções. Um dos objetivos do levantamento seria analisar a viabilidade da construção de um canal de escoamento.

Ele também mencionou que o governo estuda comprar imóveis em construção no Rio Grande do Sul e em áreas não atingidas pelas enchentes para oferecê-los dentro do programa Minha Casa Minha Vida. Fernando Haddad, ministro da Fazenda, falou em dinheiro.

De acordo com Haddad, a soma do dinheiro que o governo federal enviará aos gaúchos e do alívio com a suspensão do pagamento da dívida do estado por três anos, resultará em cerca de R$ 23 bilhões, a serem empregados exclusivamente em obras de reconstrução.

Ricardo Noblat é jornalista

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