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Carro voador’: o que é o veículo que Embraer, Gol e Azul querem nos céus do Brasil

Empresas anunciaram acordos relacionados aos eVTOLs, veículos elétricos de pouso e decolagem vertical. Aeronaves fazem menos barulho que helicópteros, mas são voltadas para voos mais curtos.

Conceito do eVTOL da Embraer — Foto: Divulgação/Embraer

A ideia de um “carro voador”, que, na verdade, é uma espécie de helicóptero mais confortável, tem atraído várias empresas pelo mundo. No Brasil, as companhias aéreas Gol e Azul e a fabricante de aeronaves Embraer já anunciaram planos envolvendo os chamados eVTOLs.

O veículo elétrico de pouso e decolagem vertical (eVTOL, na sigla em inglês) é uma aeronave que lembra um helicóptero, mas que faz menos barulho e usa mais hélices para voar.

A Gol e a Azul têm acordos para receber a partir de 2025 seus primeiros eVTOLs, que serão produzidos por empresas europeias. A Embraer, por sua vez, promete entregar sua versão da aeronave para clientes a partir de 2026.

As diferenças entre helicóptero, eVTOL e avião elétrico — Foto: Daniel Ivanaskas/Arte g1

Para Luis Carlos Munhoz da Rocha, diretor comercial da empresa de táxi aéreo Helisul, que tem um acordo para obter 50 eVTOLs da Embraer em 2026, uma vantagem dessas aeronaves em relação aos helicópteros é o fato de não emitirem gases poluentes.

O executivo afirmou ainda que, por não contar com um rotor de cauda, a hélice que fica na parte traseira do helicóptero tradicional, o eVTOL terá um impacto menor ao passar por áreas urbanas.

“O rotor de cauda é um gerador de ruído potencial”, disse. “Ele não vai existir [no eVTOL] e, consequentemente, o ruído que ele vai gerar é muito menor”.

A Helisul e a Embraer pretendem realizar em outubro testes para avaliar rotas, tempo e preço de um futuro serviço de eVTOLs. A ideia é entender qual seria a aceitação dos “carros voadores” no mercado brasileiro.

Como a aeronave elétrica da Embraer ainda não está pronta, as empresas farão testes com helicópteros.

“Nós vamos fazer o primeiro piloto dessa operação, nossa prova de conceito”, adiantou Rocha. “Vamos operar com um helicóptero nosso com o mesmo porte do eVTOL que está sendo construído pela Embraer”.

O modelo de testes será o Bell 505, da fabricante americana Bell Helicopter. Considerado um helicóptero leve, ele tem 3,25 m de altura, 12,95 m de comprimento e 1,98 m de largura. O experimento será realizado na cidade do Rio de Janeiro.

“Nós vamos ter um ponto de embarque na Barra, em princípio, com desembarque no Santos Dumont”, disse Rocha. “Vai operar em determinados horários pré-estabelecidos e vai haver um procedimento de reservas da mesma forma que você faz no Uber”.

Segundo ele, a ideia nesta etapa não é registrar lucro com o serviço, e sim avaliar se a operação com eVTOLs seria viável.

Restrições

Então, no futuro, o táxi aéreo será realizado por “carros voadores”? Segundo Jorge Eduardo Leal Medeiros, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), os eVTOLs têm uma desvantagem em relação aos helicópteros.

“Você nunca verá uma aeronave elétrica fazer voos de longa distância, ao menos no futuro previsto”, disse Medeiros.

Eve chegou a acordo com a Ascent por 100 mil horas de voo no eVTOL — Foto: Divulgação/Embraer

Além das diferenças no tipo de voo, a operação de “carros voadores” dependerá das definições de agências reguladoras ao redor do mundo.

No Brasil, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) tem, entre outros pontos, a tarefa de certificar as aeronaves.

Procurada pelo g1, a Anac afirmou que terá novidades sobre a certificação das aeronaves quando receber os primeiros pedidos para operação no Brasil.

“A Anac tem acompanhado o debate nacional e internacional de como essa nova tecnologia tem sido empregada no setor. No entanto, até o presente momento, a Agência não recebeu nenhuma solicitação formal para a operação dessas aeronaves no mercado brasileiro”, afirmou a agência.

Outra questão a ser definida é o controle do espaço aéreo. Quando entrarem em operação, os eVTOLs terão uma altitude específica de circulação para evitar colisões com helicópteros e aviões.

A autoridade brasileira que estabelecerá essas regras é o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), ligado ao Comando da Aeronáutica. O órgão também deverá definir a quantidade de eVTOLs que poderão circular simultaneamente.

“Se você tiver uma grande quantidade de táxis aéreos elétricos voando sobre uma cidade, nós vamos ter um problema de controle do espaço aéreo”, disse Medeiros.

“E, provavelmente, grande parte desses veículos poderão não ter pilotos, o que exige uma série de aplicações de controle de espaço aéreo para eles evitarem bater”.

No futuro, uma das saídas para organizar o tráfego de eVTOLs é criar um sistema novo, que gerencie as aeronaves de forma automática. O sistema para as novas aeronaves complementaria o modelo atual, controlado por humanos.

Planos das empresas brasileiras

A Gol assinou um protocolo de intenções para comprar ou arrendar 250 eVTOLs, que começariam a ser operados em 2025. O acordo, que não teve os valores revelados, foi realizado com a empresa irlandesa de arrendamento Avolon e trata da aeronave VA-X4, projeto da Vertical Aerospace.

A fabricante diz que o VA-X4 terá velocidade máxima de cerca de 325 km/h e poderá circular 160 km com apenas uma carga da bateria. O veículo poderá transportar quatro passageiros e um piloto. A expectativa é que ele seja produzido em larga escala a partir de 2024.

O helicóptero Bell 505, por exemplo, tem velocidade máxima de 231 km/h, mas consegue realizar viagens de até 566 km sem parar para reabastecer.

A Azul assinou uma parceria com a fabricante alemã Lilium. O negócio, que poderá ter valor total de US$ 1 bilhão, inclui uma frota de 220 aeronaves elétricas com operação prevista a partir de 2025.

Segundo a Lilium, seu eVTOL terá velocidade máxima de 280 km/h, autonomia de 250 km e espaço para seis passageiros e um piloto. A fabricante planeja iniciar a operação comercial com os veículos também em 2024.

 

Já a Embraer pretende fabricar um eVTOL por meio da Eve, uma subsidiária que permaneceu incubada durante quatro anos até ser lançada oficialmente em outubro de 2020.

A companhia não divulga projeções sobre a velocidade e a distância que poderá ser percorrida por sua aeronave, mas já anunciou acordos para entregar centenas de eVTOLs a partir de 2026.

Além dos 50 eVTOLs para a Helisul, a Eve firmou acordos de venda para outras duas empresas de táxi aéreo: a americana Halo, que receberá 200 unidades, e a britânica Bristow, que terá direito a 100 unidades.

A subsidiária da Embraer também anunciou acordos por horas de voo. A Ascent, de Singapura, pagará por até 100 mil horas. A Blade, dos EUA, terá direito a até 60 mil horas, enquanto a francesa Helipass e a brasileira Flapper terão 50 mil horas e 25 mil horas, respectivamente. Os eVTOLs começarão a ser entregues em 2026.

Pelas informações já divulgadas, o eVTOL da Embraer contará com oito rotores elétricos. A aeronave, que terá espaço para quatro passageiros e um piloto, poderá realizar voos de curta duração.

G1

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