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Cuiabá: Moradores dormem na ‘fila de ossinhos’ para garantir cesta básica

As pessoas estão aparecendo na noite anterior para conseguir uma cesta básica completa e saem, pelo menos, com a doação de ossos.

Fila aumentou em frente ao açougue que realiza doação de cestas e ossinhos em Cuiabá — Foto: TV Centro América

Um grupo de pessoas formou fila na frente de um açougue, entre a noite de domingo e a manhã segunda-feira (20), para garantir uma cesta básica completa no CPA 2, em Cuiabá. As doações começaram na segunda e seguem até quinta-feira, a partir das 7h, na ‘fila de ossinhos’.

De acordo com uma funcionária do açougue, ninguém sai de mãos vazias.

“Mesmo que acabe as cestas, a gente entrega um ossinho, um pedaço de frango, mas ninguém sai sem nada daqui”, contou ela ao g1.

A cozinheira Brasilina de Sousa, de 48 anos, frequentava a fila antes da repercussão nacional em julho deste ano.

Ela conta que antes conseguia se sentar em uma mureta de frente para o açougue, que podia esperar sentada e sem tantas pessoas. “Mas agora é uma multidão de gente, não aguento meu joelho”, disse.

A cozinheira está afastada do trabalho, de licença médica, por sentir dores na coluna e que afetam seu joelho direito, a impedindo de permanecer em pé por um longo tempo. Por isso, Brasilina precisa passar a maior parte do dia deitada. Ela disse que não aguenta mais isso e que quer voltar a trabalhar o quanto antes.

“Só que não recebo auxílio nenhum, nem INSS, nem nada. Conto só com doação e com ajuda de alguns parentes e amigos para pagar uma conta de luz, conta do mercado, essas coisas”, disse ela, que também entrou na Justiça para conseguir os benefícios sociais, mas até agora, não obteve sucesso.

Apesar de não ir até a ‘fila dos ossinhos’ com tanta frequência como antes, Brasilina contou que o perfil das pessoas na fila varia bastante. São diversas faixas etárias, de idosos, mulheres, homens e até crianças acompanhadas de um responsável.

Ela também explicou que as pessoas vão se comunicando e avisando os vizinhos quando tem cesta na doação no açougue, mas a fila, independente do dia, está alcançando até o ponto de ônibus do CPA 4, segundo ela.

Brasilina é mãe da catadora de materiais recicláveis, Niniane de Sousa, que conseguiu emprego depois da repercussão na fila.

Alimentos foram entregues às famílias carentes da “fila dos ossinhos”, em Cuiabá, em agosto deste ano — Foto: Divulgação/PM-MT

Reflexos da ‘fila dos ossos’

O que impulsionou tantas pessoas a aparecerem na ‘fila dos ossinhos’, no CPA 2, foi o destaque dado pela mídia e pelo agravamento dos efeitos da pandemia, da alta inflacionária corroendo o poder de compra das famílias e os índices de desemprego.

De acordo com a pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan), 43,4 milhões não contavam com a quantidade certa de alimentos, o que equivale a 20,5% da população brasileira. Enquanto 19,1 milhões estavam passando fome, sem ter o que comer em casa, o que representa 9% da população brasileira.

“É um cenário que não deixa dúvidas de que a combinação das crises econômica, política e sanitária provocou uma imensa redução da segurança alimentar em todo o Brasil”, diz trecho da pesquisa.

A pesquisa foi realizada, entre 5 e 24 de dezembro do ano passado, em 2.180 domicílios nas cinco regiões do país, seja em área urbana e rural.

G1/MT

 

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