Polícia

Debate destaca necessidade de investimentos sociais para evitar cooptação de crianças e adolescentes ao tráfico na fronteira


Raquel Teixeira/Polícia Civil-MT

O tráfico de drogas na fronteira de Mato Grosso, o crime organizado e delitos correlatos foi tema do segundo painel desta quinta-feira (26.11) no 3º Encontro de Justiça Criminal promovido pelo Tribunal de Justiça e Escola de Magistratura de Mato Grosso.

O painel foi coordenado pelo delegado da Polícia Civil do estado, Juliano Carvalho, que é também diretor de Inteligência da instituição. Participaram dos debates a delegada Cínthia Gomes Cupido, titular da Delegacia de Fronteira da Polícia Civil; o coordenador do Grupo Especial de Fronteira, tenente-coronel Fábio Ricas e o delegado Cássio Galhardo, da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal.

Fotos: Alair Ribeiro/TJ-MT

Juliano Carvalho pontuou que a criminalidade na fronteira de Mato Grosso com a Bolívia representa inúmeros desafios para todas as instituições que atuam no combate aos delitos, especialmente o tráfico de drogas que fomenta inúmeros outros crimes. “O trabalho integrado e a troca de informações são fundamentais para o êxito nas ações de enfrentamento aos crimes, em um cenário onde há cada vez mais a cooptação de adolescentes para atuar como mulas. O tráfico e seus crimes correlatos trazem prejuízos inestimáveis às comunidades instaladas na fronteira”, destacou o delegado da Polícia Civil de Mato Grosso.

O roubo e furto de veículos é um dos crimes fomentados pelo tráfico, que visa principalmente um tipo específico de camionete, a modelo Hillux, para a troca por entorpecentes na Bolívia. A camionete, cujo seguro em Mato Grosso é maior que em qualquer outro estado da federação, é trocada no país vizinho por sete ou oito quilos de droga.

A delegada Cinthia Cupido, que atua na Delegacia de Fronteira desde 2018, tocou em um ponto fundamental para desestimular a cooptação de crianças e adolescente para o tráfico, o que, consequentemente, leva a outros crimes e produz um cenário de total desestruturação social. “A região de fronteira tem muitas pessoas, famílias vulneráveis social e economicamente, não tem empregos e a cooptação torna-se muito fácil. Educação é fundamental para começar a enfrentar esse problema grave e dar melhores perspectivas para as famílias, especialmente crianças e adolescentes e evitar que entrem para a criminalidade”.

A Defron foi criada pela Polícia Civil para fortalecer a atuação da segurança pública no combate aos crimes de tráfico de drogas e associação e o transporte de veículos, geralmente ligados ao primeiro crime, produzindo investigações mais qualificadas. “Com o levantamento e produção de conhecimento por meio dos serviços de inteligência das forças de segurança e a análise das ocorrências conseguimos mapear as organizações criminosas com integrantes definidos que fazem o transporte de veículos para a Bolívia e a troca por drogas”, explicou ela, destacando que sem essa integração entre as polícias Civil, Militar, Penal e Federal, as ações de combates perdem força.

O coordenador do Gefron, unidade especializada da Secretaria de Estado de Segurança Pública que atua em conjunto com a Defron, apresentou os números de apreensões e recuperações na região. Entre janeiro e outubro deste ano foram apreendidas 13,1 toneladas de entorpecentes e recuperados 267 veículos roubados ou utilizados para o crime, além de 11 aeronaves e 53 armas de fogo.

“É uma região sensível e atrativa para a criminalidade, ao país que o principal produtor de coca no mundo e onde o único acesso oficial é pela BR-070. O Gefron catalogou que há, no mínimo, mais de 50 vias clandestinas como rotas de acesso para o tráfico e transporte de veículos roubados”, apontou o militar.

Entre os outros números apresentados pelo Gefron, das pessoas conduzidas neste ano em ocorrências de transportando de drogas ou veículos, mais de 60% possuíam antecedentes criminais.

O delegado da Polícia Federal também observou que a integração e atuação conjunta é necessária para fazer frente diante das organizações criminosas que atuam e utilizam a região como rota para o tráfico.

O 3o Encontro de Justiça Criminal é coordenado pela Comissão sobre Drogas Ilícitas do Tribunal de Justiça, com apoio da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), Polícia Civil, Polícia Militar e Politec e debate temas atuais e questões controvertidas de direito penal e  direito processual penal voltadas para a Lei de Drogas, além de buscar o aperfeiçoamento da atividade jurisdicional e das funções essenciais à Justiça.

O evento continua nesta sexta-feira (27) com exposições, debates e diálogos, entre o público participante formado por magistrados, delegados de Polícia, promotores, advogados, defensores públicos e profissionais das demais forças de seguranças.

 

Fonte: PJC MT

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