Opinião

File mignon, ouro e os mercadores da morte

A fome e a morte dos Yanomami resultam da invasão criminosa dos garimpeiros, que extraem o ouro, deixando um rastro de destruição

Por Roberto Liebgott

Crianças do Kataroa, Região do Surucucu, Município de Alto Alegre, território Yanomami (Foto: URIHI – Associação Yanomami/Instagram)
 
Filé mignon e ouro, combinação perfeita da ostentação das vaidades, da ganância e da perversão.

Os privilegiados e pervertidos não se sentem tocados pela dor e pela fome dos outros, porque nada desses sofrimentos lhes aflige.

A escravização da menina, do menino, não lhes importa, o estupro e o assassinato mais cruel, também não lhes causa qualquer comoção.

Pouco interessa, aos mercadores da morte, se clientes degustem o filé do boi criado sobre terras invadidas.

Também não lhes causa qualquer remorso o fato de o gado ser alimentado e regado com sangue indígena.

Tampouco os afeta que a extração do ouro gere contaminação, destruição e o fim dos ciclos das vidas ambientais e humanas.

As imagens mais devastadoras – difundidas durante a copa do mundo de futebol – foram as dos jogadores brasileiros e seus empresários deliciando-se com a carne enfeitada com ouro.

O ouro que motiva as terríveis cenas de crianças Yanomami em estado de absoluta desnutrição simboliza a opulência e profana o ato de alimentação.

A fome e a morte prematura dos Yanomami são resultantes da invasão criminosa dos garimpeiros, que extraem o ouro, mercadoria que deixa um rastro de morte.

O ouro e o sangue que ele representa se convertem em iguaria que se lança sobre o filé mignon para o deleite ganancioso e omisso dos integrantes da seleção.

 

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