Opinião

Inglês em 30 dias

Por JERRY MILL

Quanto tempo é preciso para uma pessoa aprender um idioma? Essa pergunta, aparentemente simples e fácil de ser respondida, está na famigerada lista SQN (Só Que Não)! Primeiro porque tal processo depende tanto da pessoa quanto da língua a que estamos nos referindo. E de muitas outras variáveis que devem ser levadas em consideração antes de alguém (tentar) responder a esse questionamento tão recorrente.

Atualmente, é muito comum as chamadas language schools propagandearem que os seus cursos, as suas equipes, os seus materiais e as suas metodologias são as melhores (e comprovadamente eficientes) que existem no mercado. Na verdade, até instituições de ensino superior fazem isso, e há muito tempo. Para elas, como se diz por aí, modéstia pouca é bobagem. Por isso, elas oferecem cursos para todos os gostos, bolsos e necessidades, desde os crash courses (com poucas semanas de duração), passando pelos específicos (para viagens, para profissionais e de conversação) até chegar a aqueles que são preparatórios para testes internacionais (IELTS, TOEFL e quetais).

Well, considerando-se que há um consenso entre várias instituições ligadas ao ensino-aprendizado de idiomas espalhadas pelo mundo de que são necessárias pelo menos 1.200 horas de dedicação à língua-alvo para que o/a aprendiz atinja a almejada e comprovada fluência no idioma, tomando-se como base a realidade brasileira, são necessários pelo menos doze anos para que tal objetivo seja alcançado: duas horas por semana, oito horas por mês, 96 horas por ano – de janeiro a dezembro, sem atrasos ou faltas.

Como isso não acontece na vida real, em que as pessoas anseiam por atalhos, segredos, milagres ou coisa parecida, não surpreende a alta tiragem e a venda de livros como Inglês em 30 Dias – Aprenda um novo idioma em apenas um mês (com CD de áudio), da dupla Sonia Brough e Carolyn Wittmann, de 2007, publicado no Brasil pela editora Martins Fontes em parceria com a escola de idiomas Berlitz. Ou o seu homônimo, da Langenscheidt, publicado pela Editorial Presença, de Portugal – que também lançou o atraente título Aprenda Inglês em 30 Horas (de Alexander Schüssler e Alfred Baumgärtner).

Now, atrevo-me a dizer com todas as letras, dear reader, que livros ou sites com promessas, ilustrações, áudio disponível, lições e quadros ilustrativos de todos os tipos, listas de palavras ou expressões e tantas outras novidades de séculos atrás em nova roupagem não garantem aprendizagem de alto nível, residente na nossa memória de longa duração. Esses e outros recursos podem, no máximo, ser capazes de aumentar as chances de isso acontecer.

Maximizar possibilidades, talvez. Nada mais! Mas estão por aí, all around, o marketing (digital, em especial) e a ingenuidade humana para demonstrarem que eu provavelmente estou (completamente?) enganado…
Outro livro que vale a pena ser mencionado aqui é o Converse em Inglês em 30 Dias – Com a pronúncia figurada, de autoria do escritor, tradutor e historiador brasileiro Éverton Florenzano, de 95 páginas, publicado pela Ediouro na década de 1980. Desde então, a obra pode ser vista em bibliotecas particulares, bibliotecas públicas e sebos espalhados pelo país. Ou seja, o livro ainda existe, mas a Ediouro (salvo engano!) atende agora pelo pomposo nome de HarperCollins Brasil.
Moral: as coisas geralmente mudam para permanecerem as mesmas.

JERRY MILL é presidente da ALCAA (Associação Livre de Cultura Anglo-Americana), membro-fundador da Academia Rondonopolitana de Letras (ARL) e associado honorário do Rotary Club de Rondonópolis.

 

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