Opinião

Israel arrasta os EUA para uma guerra contra o Irã

Rafah, cidade palestina no Sul da Faixa de Gaza, à espera das bombas

O que o mais importante jornal do mundo, o The New York Times, chama de “erro de cálculo”, pode ter sido uma ação bem pensada do governo de extrema-direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu para levar a uma escalada da guerra no Oriente Médio.

Os Estados Unidos, segundo o jornal, foram pegos de surpresa com o ataque aéreo israelense de 1º de abril ao complexo da embaixada do Irã em Damasco, capital da Síria, que matou pelo menos três generais iranianos de alto escalão e quatro oficiais dos serviços de inteligência.

Cinicamente, autoridades israelenses dizem que não consideraram o ataque um ato de provocação, e que por isso não avisaram o governo americano até pouco antes de acontecer. Quando o fizeram, já não havia mais tempo para nada. O ataque fora planejado há dois meses.

Assessores alertaram Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional do presidente Joe Biden; Jon Finer, vice-conselheiro de segurança nacional; e Brett McGurk que o ataque poderia ter consequências graves, e eles se reportaram a Biden.

Publicamente, depois do ataque que Israel até hoje não assumiu a autoria, autoridades americanas manifestaram apoio a Israel, mas, em privado, expressaram raiva pelo fato de o país tomar medidas tão agressivas contra o Irã sem consultar Washington.

Diz o The New York Times que o gabinete de guerra de Israel pensou que o Irã não reagiria da maneira forte como o fez. No último sábado, o Irã lançou uma barragem de mais de 300 drones e mísseis contra Israel, tomando todos os cuidados para não matar ninguém. E não matou.

Os Estados Unidos souberam com antecedência da resposta do Irã e puderam assim reforçar a defesa de Israel, mas o estrago estava feito. O revide do Irã ao ataque de Israel deu margem para o revide de Israel ao Irã que já foi anunciado para acontecer em breve.

Só não aconteceu ainda porque o gabinete de guerra de Israel está dividido: uma parte defende um revide moderado; a outra, um revide que inclua o bombardeio das instalações nucleares do Irã. Observa Ali Vaez, diretor iraniano do Grupo de Crise Internacional:

“Estamos numa situação em que basicamente todos podem reivindicar vitória. O Irã pode dizer que se vingou, Israel pode dizer que derrotou o ataque iraniano e os Estados Unidos podem dizer que dissuadiram o Irã e defenderam Israel. Se entrarmos em outra rodada de retaliação, isso pode facilmente sair do controle, não apenas para o Irã e Israel, mas para o resto da região e o mundo”.

Diplomatas europeus viajaram a Israel na quarta-feira para fazer mais um apelo à moderação, mas o secretário dos Negócios Estrangeiros britânico, David Cameron, reconheceu que uma represália israelense parece inevitável:

“É claro que os israelenses tomaram a decisão de agir. Esperamos apenas que eles façam isso de uma forma que contribua o mínimo possível para agravar a situação.”

Israel conduz a Europa e os Estados Unidos pela coleira; os palestinos é que pagam a conta. O Haaretz, o mais influente jornal de Israel, informa que os Estados Unidos concordaram com o plano de Israel para atacar Rafah, cidade palestina no Sul da Faixa de Gaza.

Em troca, Israel promete uma resposta limitada contra o Irã.

Ricardo Noblat é jornalista

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