Política

O recado dos Estados Unidos que não se sabe se Israel escutará

Dê-se como vencedor da guerra em Gaza e pare de matar inocentes

Por Ricardo Noblat 

O diabo é sábio não porque é diabo, mas porque é velho. Valendo-se de tal condição (não de diabo, mas de velho), o presidente americano, Joe Biden, 81 anos, em telefonema para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, 74, aconselhou-o sobre o que fazer depois do ataque do Irã ao seu país no último sábado (13/4):

“Esta foi uma vitória, aceite e desista enquanto está à frente”.

No caso da Guerra do Vietnã (1959-1976), os Estados Unidos, derrotados, declararam-se vencedores e voltaram para casa com o rabo entre as pernas. Biden sugere que Israel faça o mesmo na sua guerra contra o Hamas, que em breve completará 200 dias. Netanyahu, porém, jamais o fará. Depende da guerra para manter-se no poder.

Biden implorou a Netanyahu que se acalmasse e não respondesse imediatamente com força militar ao ataque do Irã. Lloyd Austin, secretário da Defesa americano, repetiu o apelo a Yoav Gallant, ministro da Defesa de Israel, e atual queridinho dos Estados Unidos por parecer mais maleável do que Netanyahu. Foi Gallant no início da guerra que afirmou:

“Estamos impondo um cerco total a Gaza. Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás, tudo bloqueado. Estamos lutando contra animais e agimos em conformidade”.

Moravam então na cidade de Gaza 2 milhões de palestinos. Cerca de 80% dos prédios foram destruídos e mais de 34 mil pessoas acabaram mortas, a maioria mulheres e crianças. Metade da população, forçada por Israel, deslocou-se para o Sul da Faixa de Gaza. É ali que Israel planeja bombardeá-la, se os Estados Unidos deixarem. Biden não quer deixar.

Autoridades americanas estão cientes de que os acontecimentos do fim de semana terminaram talvez da forma mais limpa possível, sem mortos, e com poucos feridos por estilhaços de mísseis. Elas sabem que qualquer potencial resposta israelense representaria um passo em frente e dois passos atrás.

Como gostam de dizer os estudiosos de conflitos, a ofensiva do Irã contra Israel foi coreografada. Os Estados Unidos souberam dela uma semana antes, depois que Israel bombardeou o consulado do Irã em Damasco, capital da Síria, matando de uma só vez seis generais do mais alto escalão da inteligência iraniana.

Você não ouviu falar sobre o bombardeio ao consulado? Mas certamente ouviu falar sobre a invasão da Embaixada do México, no Equador. A ordem da invasão à embaixada para retirar de lá um adversário do governo foi dada pelo presidente do Equador. A gritaria no mundo foi grande. No caso do bombardeio ao consulado, quase não se escutou.

O Irã disparou 300 drones e mísseis contra Israel, procurando atingir instalações militares e áreas onde não houvesse civis. Deu tempo para que os Estados Unidos, a Jordânia, o Reino Unido e a França reforçassem o escudo de defesa de Israel. Concluído o ataque, o governo iraniano anunciou que não haverá outro. A não ser que…

A não ser que Israel volte a atacá-lo, coisa que os Estados Unidos temem porque não quer ser arrastado para uma guerra que só contraria seus interesses. A bola, portanto, está nos pés de Netanyahu. A política externa americana é independente, a não ser no caso específico de Israel, o porta-aviões dos Estados Unidos no Oriente Médio.

Ricardo Noblat é jornalista

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