Opinião

“Ontem, foi o dia dos cegos”. Santa Luzia, rogai por nós.

Ditadura nunca mais!

JBReprodução

Foi no dia 13 de dezembro, há exatos 54 anos, dia de Santa Luzia, a padroeira dos olhos, que a ditadura militar de 64 tirou a máscara e editou o Ato Institucional nº 5, abolindo de vez qualquer vestígio de democracia que porventura restasse no país.

Foi o ato mais infame do regime que só se esgotou em 1985. O AI-5 permitiu fechar o Congresso, cassar mandatos eletivos, suspender por 10 anos os direitos políticos de qualquer pessoa, intervir em estados e municípios e suspender a concessão de habeas corpus.

A imprensa passou a ser censurada. E foi para denunciar que estava sob censura que o Jornal do Brasil produziu uma de suas capas mais famosas. Na edição do dia 14, no alto, do lado esquerdo, onde noticiava as condições do tempo, estava escrito:

“Previsão do tempo: Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos. Máx.: 38º, em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras”.

No alto da capa, do lado direito, a pretexto de falar do santo do dia anterior, uma notícia velha, estava escrito:

“Ontem, foi o dia dos cegos”.

No espaço de notícias censuradas, o jornal publicou pequenos anúncios, os chamados “classificados”. Na página interna reservada aos editoriais, um deles, que fora censurado, deu lugar a uma foto de Garrincha sendo expulso da Copa do Mundo de 1962.

Ricardo Noblat é jornalista

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