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Literatura: Eduardo Gomes presenteia Mato Grosso com Mais dois dedos de prosa em silêncio.

Mais dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir, do jornalista Eduardo Gomes de Andrade, é a obra que mostrará personagens da transformação mato-grossense. Em 50 capítulos, a obra será impressa e disponibilizada em page flip.

Mais dois dedos de prosa… é o segundo capítulo da trilogia, que começou em 2015 com o livro Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir. A nova obra narra fatos interessantes e importantes após 10 de maio de 1970, em Mato Grosso. O autor selecionou personagens aos quais entrevistou ou com os quais manteve algum tipo de relacionamento.

A obra chega à internet nos próximos dias. A versão impressa estará disponível em fevereiro de 2020.

A ilustração da obra é do designer gráfico e artista plástico Marco Antônio Raimundo, o Marcão. A capa, do designer gráfico Édson Xavier. Publicação e postagem não contarão com apoio das leis de incentivos culturais, a exemplo das demais do autor.

O livro tem três pilares: RIR, REFLETIR e ARGUIR. Trata-se de uma obra que destaca grandes vultos, critica quem tentou ou tenta prejudicar Mato Grosso e leva o leitor ao riso com causos e casos protagonizados por figuras públicas.

Em suas páginas o leitor se deparará com Vanessa da Mata, Padre Lothar, Valdon  Varjão, Bruna Viola, Rômulo Vandoni, Aecim Tocantins, João Balão, Dario Hiromoto, Filinto Müller, Dom Pedro Casaldáliga, Sarita Baracat, Bife, Jorilda Sabino, Archimedes Pereira Lima, Zé Paraná, Aroldo Marmo de Souza, Lázaro Papazian, Zé do Pátio, Canarinho, Gaúcho, Baú, Padre Antonino Cândido Paixão, Coronel José Meirelles etc.

Nesta postagem, antecipamos três capítulos, para que o leitor conheça um pouco da obra. Eduardo Gomes autor de outras obras de sucesso, pede aos internautas que a divulguem  mais dois dedos de prosa nas redes sociais, por considerar que seu conteúdo seja útil para tirar da oralidade boa parte da história recente e lhe dar contornos literários.

Baú em céu de brigadeiro

Em 1973 o mineiro de Lagoa da Prata, José Antônio de Almeida era um jovem piloto em busca do pão de cada dia. Naquele ano, com seu Cessna 172, ele decolou em Paracatu, no seu Estado, com destino aos garimpos de ouro em Itaituba, no Pará, onde pretendia trabalhar. Na rota, pousou em São Félix do Araguaia para prosseguir no dia seguinte.

Em São Félix, pilotos desaconselharam José Antônio de tentar a sorte no Pará. Seu avião, de pequeno porte, não se encaixava no perfil das aeronaves que voavam garimpo. Pensativo, fechou a porta do quarto do hotel pra dormir, sem saber se decolaria ou se ficaria.

Ao clarear o dia o porteiro bateu na porta do quarto de José Antônio: “acorda ó do BAU. Tem um pessoal precisando voar”. Com seus botões ele pensou, “lugar bom pra se ganhar dinheiro”.

Os voos continuaram. Seu coração também bateu asas e o levou ao altar. Nunca mais saiu de São Félix, onde além de tudo que a vida lhe deu, ganhou o apelido do prefixo de seu Cessna, porque seus primeiros clientes não sabiam seu nome e o identificavam como sendo o homem do BAU, mais tarde apenas Baú.

Por duas vezes Baú foi prefeito da cidade lhe rendeu o apelido e onde o encontro das águas do rio das Mortes com o Araguaia resultou no surgimento da lendária Ilha do Bananal.

O voo do Canarinho

Mato Grosso é terra de oportunidades, mas dinheiro não cai do céu. Sabendo isso, o paranaense Jonas Rodrigues da Silva não dava chance ao azar: trabalhava dia e noite, noite e dia. Ora em seu pequeno Hot Dog com sua moto transportando passageiros ou fazendo entregas. O estabelecimento comercial ajudou a fazê-lo conhecido, mas sua popularidade surgiu com suas peripécias sobre duas rodas: era o mototaxista da capa amarela, que se abria com o vento, parecendo asas de canarinho. A sabedoria popular via aquela cena pelas ruas pouco movimentadas de Aripuanã e isso lhe rendeu o carinhoso apelido de Jonas Canarinho.

Rebatizado pela sabedoria popular, Jonas Canarinho virou uma espécie de figura da cidade, quase um xodó da população – não chegou a tanto, porque entrou para a política – e nunca faltam adversários.Jonas Canarinho para lá Jonas Canarinho pra cá e o homem da moto e da capa amarela conquistou mandato de vereador por três legislaturas consecutivas, e por um biênio presidiu a Câmara. Em 2016, seu voo foi mais alto: pelo PR venceu a eleição para prefeito batendo dois adversários – o então prefeito Edmilson Faitta (PMDB) e a ex-vereadora Seluir Peixer (PSDB) .

Prefeito de Aripuanã, Jonas Canarinho foi eleito secretário-geral da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM).

Na simplicidade de suas atividades vendendo lanches e pilotando uma moto, graças ao apelido que o popularizou, Jonas Canarinho chegou ao topo do poder municipal numa terra caracterizada por grandes pecuaristas e poderosos madeireiros.

ARIPUANà– O município administrado por Jonas Canarinho tem 22 mil habitantes e sua área de 25.107 km² é maior que Sergipe ou Israel. Na Amazônia Mato-grossense, Aripuanã dista 980 quilômetros de Cuiabá e recebe levas migratórias após a descoberta de um garimpo de ouro perto de sua sede e da instalação do Projeto Aripuanã da mineradora Nexa Resources (sucessora do Votorantim) para exploração de uma mina que produzirá concentrados de zinco, cobre e Chumbo; esse projeto prevê investimento de R$ 1,5 bilhão.

Filinto com um pé no céu e outro no inferno

Com um pé no céu e outro no inferno. Essa é a visão do mato-grossense sobre Filinto Müller, 46 anos depois de sua morte (¹). Filinto foi o maior político de Mato Grosso em sua época. De quebra, nos bastidores do poder costurou um volume de obras que transformou Cuiabá e retardou em três décadas a criação de Mato Grosso do Sul.

Filinto vivia a dualidade de dar as cartas na política nacional sem que essa condição contribuísse para se eleger governador, por mais que tentasse junto ao eleitor. Senador desde 1947, sempre se reelegeu e morreu no exercício do mandato quando presidia o Senado. Com o restabelecimento democrático após a ditadura Vargas, filiou-se ao PSD. Em sua carreira presidiu a Aliança Renovadora Nacional (Arena).

Oficial do Exército, Filinto participou de todas as revoluções nas décadas de 1920 e 30; alcançou a patente de major, mas se destacou mais enquanto chefe de Polícia de Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, que era capital da República. Exerceu esse cargo entre 1933 e 1942.

Sobre os ombros de Filinto a esquerda lançou a responsabilidade pela deportação da judia alemã comunista Olga Benário Prestes. Olga era mulher do mandachuva do comunismo no Brasil, Luís Carlos Prestes, mas na verdade essa decisão foi tomada pelo Supremo Tribunal Federal, mesmo sem pedido formal pela Chancelaria em Berlim.

Olga foi mandada grávida para a Alemanha. Em 27 de novembro de 1936 nasceu sua filha com Prestes, Anita Leocádia Prestes. Logo depois a comunista foi executada no campo de concentração em Bernburg. Em 1942 Filinto tentou impedir no Rio uma manifestação da União Nacional dos Estudantes (UNE), favorável aos Aliados, o que não foi aceito pelo ministro da Justiça, Vasco Leitão da Cunha. Sua resistência ao ato resultou em sua degola do cargo, mas não o afastou do poder, porque foi nomeado oficial de gabinete do ministro da Guerra, o cuiabano marechal Eurico Gaspar Dutra, que mais tarde seria presidente.

O Filinto com o pé no inferno, ou que agia a partir de lá, segundo a esquerda, teve um lado real que foi muito importante ao desenvolvimento de Cuiabá e retardou em três décadas a divisão territorial de Mato Grosso para a criação de Mato Grosso do Sul. No começo dos anos 1940 uma forte corrente política com base eleitoral em Campo Grande defendia a transferência da capital de Cuiabá para aquela cidade, que era melhor estruturada. Se fosse consumada essa manifestação resultaria num duro golpe aos 54.394 cuiabanos que se espalhavam pela cidade, zona rural e nos distritos de Várzea Grande e outros. Num segundo momento a transferência forçaria a divisão territorial para evitar o colapso causado pelo vácuo do Estado com base no bairrismo que colocava as duas cidades em campos opostos.

Filinto soube bem usar sua influência em defesa de Cuiabá e Mato Grosso. Tanto assim, que arrancou um pacote de obras capaz de dar ares de imponência à bucólica capital isolada no centro do continente.

O pacote conseguido por Filinto nunca foi apresentado com suas impressões digitais políticas. Sempre foi creditado ao seu irmão e interventor em Mato Grosso, o advogado Júlio Strübing Müller. Porém, políticos da época sustentavam que até mesmo o cargo de Júlio se devia ao mano, pois sua nomeação era privativa de Vargas. Júlio foi eleito governador pela Assembleia Legislativa exercendo o cargo de 4 de outubro a 24 de novembro de 1937, quando foi destituído e transformado em interventor, função que exerceu até 8 de outubro de 1945.

A força de Filinto no âmbito da composição do poder não ficou restrita à nomeação de Júlio. Também foi dele a indicação de outro de seus manos, o engenheiro civil Fenelon Müller, para interventor de Mato Grosso no período de 8 e março a 28 de agosto de 1935.

Nos bastidores na década de 1940, com céu, inferno e irmãos à parte, Filinto transformou Cuiabá. Àquela época a cidade ganhou do governo federal o prédio do Liceu Cuiabano Dona Maria de Arruda Müller; a Residência Oficial dos Governadores; o Palácio da Justiça, que abrigava o Judiciário e a Assembleia Legislativa; o cine Teatro Cuiabá, o Hospital Geral; a Pequena Central Hidrelétrica do Rio Casca; a primeira estação de tratamento de água; o Centro de Saúde do Estado; as antigas sedes da Secretaria Geral do Estado e da Secretaria de Fazenda (Sefaz); o Hotel Águas Quentes e o Grande Hotel; o primeiro Campo de Aviação de Cuiabá; o quartel do 44º Batalhão de Infantaria Motorizado; e a Ponte Júlio Müller, sobre o rio Cuiabá.

O Campo de Aviação de Cuiabá foi inaugurado em 6 de agosto de 1941 com o pouso do bimotor Lockeed transportando Getúlio Vargas, que assim se tornou o primeiro presidente a visitar a capital mato-grossense. A agenda de Vargas foi destinada a inaugurações, visitas a obras e contatos políticos.

A Ponte Júlio Müller aposentou as balsas que faziam a travessia dos carros, carroças, ciclistas, pedestres e mercadorias entre Cuiabá e Várzea Grande e no sentido contrário.

Independentemente do julgamento histórico por sua conduta política e convicções ideológicas Filinto foi ao seu tempo o maior articulador em defesa de Mato Grosso, a terra onde nasceu e conhecia muito bem.

(¹) O presidente do Senado Filinto Müller, sua mulher Consuelo e o neto do casal Müller, Pedro, de 15 anos, morreram em 11 de julho de 1973 na queda do Boeing 707 de prefixo PP-VJZ, da Varig, nas imediações do Aeroporto de Orly, em Paris, na França, onde a aeronave faria escala do voo 820, na rota Rio de Janeiro-Londres, na Inglaterra. Na data Filinto completava 73 anos.

O Senado denominou uma de suas alas de Senador Filinto Müller. Em Mato Grosso não há nenhuma cidade nem distrito com seu nome.

Fonte: Site Boamídia

 

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