Opinião

STF age para revogar decisão do ministro encantado por um bicheiro

O que essa história esconde?

Por Ricardo Noblat

Impossível que Kassio Nunes Marques, ministro do Supremo Tribunal graças a Bolsonaro, não previsse que sua decisão, a quinta consecutiva em favor do bicheiro carioca Rogério de Andrade, revoltaria a totalidade dos seus colegas – à exceção de André Mendonça, também nomeado por Bolsonaro.

Nunes Marques autorizou o mafioso a livrar-se da tornozeleira eletrônica que usava como suspeito de crimes, e da obrigação de ficar em casa todas as noites. Durante o dia, Rogério podia circular para tocar seus negócios, mas a tornozeleira e o retiro noturno o incomodavam.

Cessou o incômodo de quem é apontado por seus advogados como um exemplar pai de família, amoroso e pacífico. Nunes Marques condoeu-se dele, que no último carnaval não pôde comparecer ao Sambódromo para assistir ao desfile de sua mulher como rainha da bateria da Mocidade de Padre Miguel.

Em setembro de 2021, Rogério fora beneficiado por outra decisão de Nunes Marques, que revogou sua prisão determinada pela justiça. Três meses depois, o ministro votou para trancar a ação em que Rogério é acusado de mandar matar um rival em disputa por dinheiro.

Um ano mais tarde, Nunes Marques revogou outra prisão de Andrade – desta vez no processo que responde por crimes de homicídio, corrupção, extorsão e lavagem de dinheiro. Finalmente, em junho do ano passado, o ministro mandou soltar Gustavo de Andrade, que fora preso junto com o pai.

Envergonhados com o comportamento do colega, os demais ministros agiram rápido: acionaram a Procuradoria Geral da República para que recorresse da decisão de Nunes Marques de liberar Rogério do constrangimento de ter que usar tornozeleira, e de recolher-se em casa antes do início da noite.

O recurso já foi apresentado. E, em breve, a Segunda Turma do Supremo irá julgá-lo. Ela é formada por cinco ministros: Nunes Marques, Gilmar Mendes, Edson Fachin, André Mendonça e Dias Toffoli. Se todos votarem, o placar é mais do que previsível: três votos contra dois; assunto encerrado.

Encerrado para vergonha de Nunes Marques, se ele a tiver de fato, e para desgosto de Rogério, que voltará a portar tornozeleira e a passar as noites em casa; logo Rogério, como os vampiros, um admirador confesso da escuridão.

Foto: Revista Veja

Ricardo Noblat é jornalista

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